quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Pastagens em sistemas silvipastoris


A utilização de pastagens cultivadas ou florestas plantadas de maneira isolada representam uma modalidade de uso da terra cuja exploração é bem mais simples do que sistemas silvipastoris. Dessa forma, nestes sistemas integrados manter o equilíbrio entre os componentes (árvores, plantas forrageiras e herbívoros) e suas interações, além da relação com os fatores ambientais disponíveis, tornam a atividade mais complexa e dependente de um planejamento rigoroso. Para obtenção de sucesso é necessário estudos de mercado, produtos, espécies, arranjo (Andrade et al, 2003) e, principalmente, de manejo da planta forrageira e dos animais.

Quando se trata de espécies forrageiras, é necessário conhecer sua tolerância e capacidade produtiva em ambientes sombreados (Andrade et al. 2003). Além disso, o conhecimento das características morfofisiológicas e estruturais das plantas é de suma importância para que sejam escolhidas e manejadas adequadamente a fim de garantir a longevidade do sistema.

A produção de forragem é afetada pela diminuição da radiação luminosa disponível para as plantas no sub-bosque e o fator luz só deixa de ser o mais importante, quando existem outras limitações mais fortes, como, por exemplo, limitação nutricional, fator que deve sempre ser corrigido. Outros fatores são água, temperatura e comprimento do dia reduzido, os quais comprometem a planta em qualquer sistema. Esses aspectos não inviabilizam, tampouco desencorajam o sistema silvipastoril, mas precisam ser entendidos.

Nos dias atuais, em função de pressões econômicas e ambientais, qualquer atividade precisa ser economicamente viável e ambientalmente correta. Dessa forma, em locais onde a pressão econômica é mais forte e as questões ambientais não são um entrave, os sistemas ainda tendem a ser exclusivos. Nesses casos a silvicultura ou a pecuária são conduzidos separadamente. No entanto, a verticalização (intensificação) da produção está cada vez mais em evidência, e com isso sistemas integrados de produção, normalmente iniciados em menor escala, são o primeiro passo para a diversificação das atividades na propriedade. Outro aspecto referesse ao alto custo da terra em algumas regiões do país que faz com que se busquem alternativas de melhor aproveitamento do solo (não deixando áreas em pousio), obtendo maior retorno no sistema como um todo e melhorando o fluxo de caixa do projeto.

Além disso, quando se propõe um sistema silvipastoril, é preciso ter conhecimento adequado para planejá-lo e gerenciá-lo. Nesse caso é preciso mensurar a quantidade de árvores versus perdas na produção de forragem, incluindo nesse processo o conhecimento de fisiologia de plantas forrageiras para que o manejo do pastejo seja feito de forma a garantir a perenidade da pastagem e, conseqüentemente, a economicidade do projeto.

Neste ambiente está evidente que o efeito da sombra muda toda a dinâmica da planta forrageira, proporcionando aumentos na área foliar específica, na quantidade de lignina, no alongamento de colmos e na diminuição das reservas. Dessa forma, ao implantar um sistema silvipastoril, mais do que nunca, o respeito aos limites fisiológicos das plantas forrageiras, ao período de descanso e ao estande de plantas na área tornam-se aspectos ainda mais relevantes, que se negligenciados podem comprometer o sistema rapidamente. Nesse sentido, a quantidade e o formato de distribuição das árvores tornam-se fatores cruciais no processo.

Algumas espécies de gramíneas de clima tropical foram submetidas a três níveis de sombreamento (0, 30 e 60%). De maneira geral, houve redução na produção em função da redução na quantidade de luz disponível. Brachiaria brizantha cv. Marandu; B. decumbens e Andropogon gayanus cv. Planatina apresentaram redução na produção, e no maior nível de sombra a produção caiu em 27%, 45% e 49%, respectivamente, decorrente da redução da radiação luminosa em ambiente sombreado. Melinis minutiflora e Setaria anceps cv. Kazungula não tiveram suas produções alteradas pelo sombreamento (Castro et al.,1999).

Ainda nesse estudo, uma resposta interessante foi relatada com relação ao Panicum maximum cv. Vencedor, que a pleno sol e com 30% de sombra apresentou produção semelhante, demonstrando o potencial dessa planta em sistemas silvipastoris. No entanto, quando submetido a 60% de sombra, sua produção reduziu em 28%. Por isso, a definição do espaçamento dos renques é de suma importância, para que se tenha ganho com a produção de madeira (árvores), conforto térmico para os animais, sem maiores perdas em produção de forragem.

ANDRADE, C.M.S.; GARCIA, R.; COUTO, L. PEREIRA, O. G.; SOUZA, A.L. Desempenho de Seis Gramíneas Solteiras ou Consorciadas com o Stylosanthes guianensis cv. Mineirão e Eucalipto em Sistema Silvipastoril. Revista Brasileira de Zootecnia, v.32, n.6, p.1845-1850, 2003 (supl. 2).
CASTRO, C.R.T.; GARCIA, R.; CARVALHO, M.M. et al. Produção forrageira de gramíneas cultivadas sob luminosidade reduzida. Revista Brasileira de Zootecnia, v.28, n.5, p.919-927, 1999.

Bruno Carneiro e Pedreira    Sinop - Mato Grosso  -   Pesquisador da EMBRAPA Agrossilvipastoril


Fonte: www.milkpoint.com.br

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Indicação Geográfica valoriza o produto agropecuário


Ministério da Agricultura apoia a produção de alimentos com características exclusivas
Presunto italiano de Parma, queijo Roquefort e Champagne francês são produtos reconhecidos em todo o mundo pela sua forte marca e características exclusivas. No Brasil, a cachaça de Paraty, o café do Cerrado Mineiro e o vinho do Vale dos Vinhedos são exemplos de alimentos com registro de Indicação Geográfica (IG). A certificação confere qualidades específicas do local de produção, o que atribui reputação, valor e identidade própria, além de distinguir os produtos em relação aos seus similares disponíveis no mercado. São itens que apresentam uma qualidade única em função de características naturais como solo, vegetação, clima e saber fazer (know-how).
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) apoia e fomenta as ações para a concessão de selo para Indicação geográfica (IG). O Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) é a instituição que concede o registro e emite o certificado. Existem duas espécies ou modalidades de Indicação Geográfica: “Indicação de Procedência (IP)” e “Denominação de Origem (DO)”. No Brasil, sete produtos receberam selos de IG na espécie "Indicação de Procedência" e um produto recebeu na espécie "Denominação de Origem".
Os produtos com registro na modalidade Indicação de Procedência são os vinhos e espumantes do Vale dos Vinhedos (RS), café do Cerrado Mineiro, carne e derivados do Pampa Gaúcho, cachaça de Paraty (RJ), uva de mesa e manga do Vale do Submédio São Francisco (BA e PE), couro acabado do Vale dos Sinos (RS) e vinhos e espumantes de Pinto Bandeira (RS). Já o produto com registro em Denominação de Origem é o arroz do Litoral Norte Gaúcho.
O primeiro passo do Ministério para apoiar as ações de Indicação Geográfica é diagnosticar produtos com potencial de IG. Esse levantamento considera a importância social, cultural e econômica para a região, bem como o atendimento aos requisitos para proteção de indicação geográfica. Além disso, para dar suporte técnico aos produtores no processo de Indicação Geográfica, o Mapa treina fiscais federais agropecuários atuantes no Serviço de Política e Desenvolvimento Agropecuário (SEPDAG) e outras áreas afins, além dos investimentos na capacitação em Propriedade Intelectual, envolvendo representantes de entidades parceiras e de empresas vinculadas.
Arroz
Um dos produtos que recentemente (final de 2010) recebeu o registro de Indicação Geográfica foi o arroz do Litoral Norte Gaúcho. O reconhecimento do arroz gaúcho na modalidade de IG como Denominação de Origem contou com o apoio de diversas instituições como a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o INPI - que concede o registro -, além do Ministério da Agricultura. O Mapa presta assessoria técnica às associações de produtores a fim de que eles atendam aos requisitos da IG. No caso do arroz gaúcho, treinamentos promovidos por técnicos do ministério abordaram a organização da produção e incentivaram medidas de agregação de valor e diferenciação do produto.
A principal peculiaridade do arroz produzido no litoral norte gaúcho é a maior percentagem de grãos inteiros e a baixa taxa de gessamento, que confere maior translucidez e cor branca mais intensa ao grão. Essas características são verificadas devido à influência dos ventos, da temperatura e da umidade que predominam na área. O vento constante e a quantidade abundante de água na região, pela proximidade com a Lagoa dos Patos e o Oceano Atlântico, proporcionam clima e temperaturas estáveis. Essas condições são ideais para o cultivo do arroz, reconhecido e valorizado pelos atacadistas e beneficiadores de todo o país, como produto de melhor qualidade e maior rendimento.

Fonte: assessoria de comunicação - Emater-DF  www.emater.df.gov.br

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Fazenda se torna referência em Agricultura Verde


A pequena cidade de Ipameri, em Goiás, anda recebendo visitantes ilustres. Ex-ministros da agricultura, especialistas em meio ambiente, empresários, investidores e até vice-presidente de banco, vira e mexe, aparecem por lá. Mas a cidade não tem águas quentes, como a vizinha Caldas Novas, nem é berço de dupla sertaneja, como Goiânia, distante 190 quilômetros. O que chama a atenção de gente tão importante em Ipameri é a Fazenda Santa Brígida, outrora uma propriedade repleta de pastos degradados, baixa produtividade e altos custos – hoje, uma fazenda referência em manejo sustentável e que produz com eficiência nos 12meses do ano, inclusive no auge da seca no Cerrado. “Isso aqui era só cupim”, resume a proprietária, a dentista Marize Porto Costa, responsável pela mudança e que até pouco tempo atrás, confessa, nada sabia sobre agropecuária. “Era como um bicho de sete cabeças”, lembra. Marize assumiu o negócio em 2002, depois de ficar viúva. Antes disso, ia muito pouco à Santa Brígida, uma fazenda de pecuária de corte com 960 hectares. “Os custos eram altíssimos e a produtividade do rebanho muito baixa. Quase me descabelei pensando em como iria pagar as contas, e tudo piorou quando vi como custava caro recuperar pastagens pelo sistema tradicional”, diz. As incertezas administrativas da doutora Marize na época deram o que falar em Ipameri. Até uma bolsa de apostas foi firmada entre os produtores da redondeza – a maioria homens -, que não botavam fé na nova fazendeira. Os desafios giravam em torno de “ou ela vende ou ela quebra”, e nunca “ela vai conseguir”.

A jogada de mestre de Marize foi procurar a Embrapa, em Goiânia, em 2005. Com a cara e a coragem, bateu na porta de Homero Aidar, chefe da Embrapa Arroz e Feijão, falecido no ano passado, e a ele contou seu dilema. “Ele me deu um livro sobre integração lavoura-pecuária (ILP), e fui me interessando pelo tema, embora sem conhecer nada sobre agricultura. Achei a teoria fantástica e percebi que havia sim uma saída mais econômica”, conta. Também foi Aidar quem apresentou Marize ao pesquisador João Kluthcouski, o João K, e aí tudo começou a mudar na Santa Brígida. “O João K disse que faríamos tudo ao contrário do que a maioria dos pecuaristas faz. Então, começamos a construir fertilidade nessas terras.” Marize acreditou que poderia dar certo e fazia tudo o que João K mandava: revirou o pasto para destruir os cupinzeiros usando tratores velhos – e, como ela mesma diz, que caíam aos pedaços; depois, corrigiu a acidez dos solos para plantar soja no pasto. Percebeu, então, que as sucatas sobre rodas não dariam conta do trabalho e, de novo, foi bater na porta de alguém para pedir ajuda. Desta vez, foi na Tatu Marchesan e na John Deere. “Eu já tinha um não. No máximo, sairia de lá com um sim.” E foi o que aconteceu. Depois de contar aos diretores das revendas o que pretendia fazer na fazenda, recebeu apoio, em máquinas e implementos com desconto, para avançar com o projeto. Dos fazendeiros da região ela continuava recebendo olhares duvidosos.

Em um ano, com a venda da colheita de soja, Marize pagou parte do investimento. Na mesma área, João K plantou sorgo. Ele chama esse processo de sucessão. Quando o sorgo cresceu, o gado voltou para o pasto, engordou e saiu de novo. “Foi aí que entramos com o consórcio de braquiária e milho. Enquanto o milho crescia, a braquiária promovia a vascularização do solo, melhorando suas condições, pois suas raízes são condutoras de nutrientes”, explica João K. “Após a colheita de milho, que gerou liquidez, o gado retornou para o pasto, no inverno, e engordou com um custo baixo, em torno de R$ 1,50 por hectare por dia, enquanto no confinamento custaria R$ 6.” Roberto Freitas é o engenheiro agrônomo que acompanha todo o processo da Santa Brígida no dia a dia. Ele explica que a integração é uma evolução do Sistema de Plantio Direto (SPD), que é quando a palha permanece cobrindo o solo e outra espécie é semeada. “É um processo simples e que melhora a qualidade do solo”, diz. Segundo o agrônomo, o SPD e a ILP promovem benefícios vitais na terra, como a ciclagem de nutrientes, que ocorre por contada grande quantidade de matéria orgânica acumulada, a formação de uma barreira natural para controlar plantas daninhas e doenças e a erosão natural, provocada por chuva e vento. “Antes, plantávamos em terras limpas. Hoje, percebemos que, quanto mais coberto o solo estiver com a palha, mais qualidade ele vai ter e menos vamos gastar.” Na Santa Brígida, o uso de herbicidas é ínfimo, já que a palha que fica no solo combate naturalmente uma série de doenças, como o mofo branco da soja. Todas as embalagens de defensivos usadas na fazenda são descartadas seguindo as regras do Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias, o Inpev. “Tudo o que entra volta para seu devido lugar”, diz Marize. Em 2011, Goiás devolveu 2,6 mil toneladas de embalagens deforma correta.

João K explica que a ILP pode ser aplicada em qualquer região do Brasil, que tem em torno de 100 milhões de hectares de pastos degradados. “A integração não escolhe solo, clima nem tamanho de área”, diz. Segundo ele, as opções de plantios consorciados são adaptadas conforme a região e o grau de degradação do solo. “Pelo menos duas espécies se adaptam em cada região. É possível recuperar com soja, que exige um investimento maior, mas tem produtividade inicial alta, de 50 sacas por hectare, e garante liquidez. Mas há opções com arroz e feijão.” Segundo o pesquisador, existem no Brasil cerca de 3 milhões de hectares com ILP. “Ainda é pouco, mas, se inseríssemos a integração em pelo menos metade da área total de pastos degradados, o país conseguiria triplicar a produção de grãos sem avançar sobre novas áreas agrícolas”, afirma.

O primeiro ciclo de ILP na Santa Brígida está quase terminando e 600 hectares estão recuperados, 50% cultivados com soja, 50%com milho e braquiária. Na safra 2010/2011, foram colhidas 35 mil sacas de milho e 20 mil de soja. O hectare de pastagem passou a render em torno de R$ 500, enquanto que antes não passava de R$ 100. A bolsa de apostas em Ipameri perdeu força. Muitos fazendeiros tiraram o time de campo ao ver que a doutora estava pagando as contas em dia, produzindo grãos no verão e tinha pasto no inverno, coisa rara no Cerrado – e, pior, o que eles não tinham. Mas outra ideia de João K deixaria os vizinhos encafifados. Marize começaria a fazer um investimento delongo prazo: plantar floresta. “Aí que me chamaram de maluca mesmo. Eucalipto aqui era apenas para barrar vento”, lembra.
Por toda a fazenda existem fileiras paralelas de eucaliptos. Cada dupla de alas é separada por uma área de 24 metros na qual, no verão, tem milho e braquiária e, no inverno, pasto verde. “Em setembro, quando a seca atinge o auge, a Santa Brígida está verde, o gado gordo, se refestelando na sombra da árvore. Ele engorda em média 1,3 quilo por dia”, explica Anábio Ribeiro, gerente da fazenda. Segundo ele, com a introdução da ILPF, a propriedade passou a produzir o ano todo. “Temos nove colheitas na mesma área, em um ciclo de oito anos: colhemos grãos duas a três vezes, temos de cinco a seis safras bovinas e uma rentável colheita de madeira no final”, explica. Marize ainda não colheu a madeira, e isso vai acontecer em2012. Se ela vender a safra como lenha, a forma menos valorizada do mercado, já terá lucro de R$ 1 mil por hectare. “Todo o ciclo tem liquidez garantida”, afirma. João K diz que o eucalipto foi escolhido pela precocidade. “Em seis anos, você colhe a madeira, mas é possível obter bons resultados com nim-indiano, mogno-africano, pinus, teca, entre outras. A diferença é o tempo de maturação.” A única restrição para as árvores é que o gado não pode pastar na área plantada no primeiro ano. “Elas estão frágeis e o gado pode pisotear ou quebrar os troncos”, diz João K.

A Santa Brígida tornou-se vitrine tecnológica e sustentável da Embrapa, e a doutora Marize passou a entender muito sobre agronegócio, embora afirme que é apenas uma aprendiz. Ela já tem outras três propriedades rurais na região e foi a primeira produtora rural a obter crédito do Programa de Agricultura de Baixo Carbono, do governo federal. O fato levou à Ipameri o vice-presidente do Banco do Brasil, Osmar Dias, e o ex-ministro da Agricultura Alysson Paolinelli, que seguiu, passo a passo, o trabalho dela para também tentar um empréstimo. E novamente o burburinho em torno da fazendeira se fez presente na cidade. Mas, desta vez, sem apostas.

Fonte: Globo Rural