terça-feira, 17 de julho de 2012

Avaliação de bezerros de raças leiteiras em sistemas de criação com vaca-ama e com balde.


A alta mortalidade de bezerros é um dos principais problemas da criação leiteira. A indisponibilidade de mamar quando o leite é dado em balde pode induzir a intersugação e outros comportamentos anômalos. Pressupõe-se que o sistema de criação com vaca-ama produz bezerros mais saudáveis e com melhor desempenho do que aqueles criados no sistema com balde e, ainda, demanda menor mão-de-obra. Este trabalho comparou o comportamento e o desempenho de bezerros leiteiros em dois sistemas. Os bezerros foram aleatoriamente distribuídos em: tratamento 1 (TB) = oito bezerros foram alojados em bezerreiras individuais de 1,5 m x 2 m e receberam 4 l de leite em duas porções diárias; tratamento 2 (TVA) = 8 grupos de 2 bezerros com 1 vaca-ama. Todos os bezerros foram separados de suas mães com 24 h de vida. Os comportamentos foram observados aos três, sete, 30, 60 e 90 dias, das 7-12 e 14-19h, em instantâneos a cada 3 min. As amamentações foram registradas do início ao fim. Foram aplicados roteiros de entrevistas aos tratadores dos bezerros para verificar a percepção deles com relação aos sistemas criatórios. Os dados foram analisados estatisticamente pelo GLM do SAS. Não houve efeito do sexo, ou interação, em nenhuma variável (P>0,10). Bezerros criados no balde gastaram mais tempo deitados inativos (P<0,04) aos 30 e 60 dias; em pé inativos (P<0,04) aos três, sete e 30 dias; bebendo água (P<0.01) aos três dias; se auto-alisando (P<0,01) aos três e 60 dias, e menos tempo andando aos 30, 60 e 90 dias (P<0.003) e pastando aos sete, 30 e 60 dias (P<0,01) do que os bezerros com vaca-ama. Foi observada diferença entre as idades nos comportamentos deitado inativo (P<0,0001), deitado ruminando (P<0,0001), em pé ruminando (P<0,0001), pastando (P<0,0001), bebendo água (P<0,03) e outros (P<0,0001). Houve efeito de interação tratamento/idade nas variáveis tempo deitado inativo (P<0,02), andando (P<0,0001), auto-alisamento (P<0,004) e em pé ruminando (P<0,002). Em relação ao peso, os bezerros do TB foram mais pesados dos sete aos 90 dias, mas aos 180 dias não houve diferença entre os tratamentos. O número de eventos de amamentação diminui com a idade (P<0,01) de 5,4/dia aos três dias, para 2,8/dia aos 90 dias, assim como a média de tempo total e de cada evento de amamentação. Os resultados dos questionários mostraram que, apesar de os tratadores terem passado menos tempo cuidando dos bezerros criados com vaca-ama do que com os de balde, estão satisfeitos com o sistema de balde. Concluí-se que bezerros leiteiros com vaca-ama são mais ativos e não apresentam comportamentos que possam ser considerados “anômalos”. Em condições de boa alimentação das vacas-ama, esse sistema promove mais o bem-estar dos bezerros que o sistema de balde. Bezerros criados por vaca-ama apresentam a mesma tendência dos criados pela mãe de reduzir a freqüência diária de mamadas com a idade. A adoção de novas tecnologias por agricultores não depende apenas dos resultados técnicos e econômicos, mas também de aspectos culturais.

Patrícia Silva de Lorenzi DINON - Laboratório de Etologia Aplicada - LETA, Tese de Mestrado em Agroecossistemas - CCA (UFSC) - 2004

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