segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Efeito do Pastoreio Racional Voisin na pastagem, no pastoreio e na compactação do solo.


O sistema de manejo Pastoreio Racional Voisin (PRV) tem sido amplamente utilizado na produção de leite no Sul do Brasil. Bastante polêmico e pouco estudado, duas questões têm sido objeto de dúvida na aplicação desse sistema: a altura do resíduo pós-pastoreio e o uso de lotes de desnate e repasse. Essas diferenças de manejo podem causar diferentes efeitos na produção e na qualidade da pastagem, na compactação do solo pelo pisoteio e no comportamento de pastoreio dos animais. Este trabalho estudou esses aspectos em dois experimentos. No experimento 1 foi testado o efeito de duas alturas de resíduo pós-pastoreio na pastagem T1 (baixo = 3cm) e T2 (moderado = 12cm), sobre a produtividade e qualidade da pastagem e compactação do solo, com avaliações em dezembro/2006, fevereiro, julho e setembro/2007, num delineamento em blocos casualizados (n=6). No experimento 2 foi aplicado o pastoreio em lotes de desnate e repasse nos tratamentos descritos do experimento 1, num quadrado latino 4x4x4, com o objetivo de estudar o comportamento de pastoreio e o valor nutritivo do pasto consumido. Os tratamentos foram: T1 (resíduo baixo e desnate), T2 (resíduo baixo e repasse), T3 (resíduo moderado e desnate) e T4 (resíduo moderado e repasse). No experimento 1, a maior produção de matéria seca (MS) da pastagem no T1 se expressou apenas nos meses de julho (2702,9 vs  2489,8 ± 9,84, p<0,0006) e setembro (1646,12 vs 1418,62 ± 50,48, p<0,02), mas a composição botânica da pastagem e resistência do solo à penetração não foram diferentes. No experimento 2, as vacas pastaram por mais tempo no T1 comparado ao T2 e T4, não diferindo do T3 (196,87 vs 168,12; 155,62 e 181,87 ± 8,11 min, p<0,05). Por outro lado, verificou-se maior tempo de ócio no T2, T3 e T4 do que no T1 (33,75; 30,00 e 38,12 vs 12,5 ± 6,78 min, p< 0,03). A taxa de bocadas foi maior nos tratamentos T1 e T3 do que em T2 e T4 (43,87 e 42,41 vs 39,1 e 39,28 ± 0,72 min/h, p< 0,008). Em paralelo com os resultados do comportamento de pastoreio, o valor nutritivo da pastagem foi maior nos tratamentos T1 e T3 do que nos T2 e T4 com relação à PB (19,00 e 18,37 vs 15,28 e 14,78 ± 0.88; p<0,01) e DIVMO (70,65 e 69,86 vs 61,97 e 62,58 ± 2.06; p< 0,006). A altura do resíduo pós-pastoreio baixo (3cm) apresentou melhores resultados comparada a uma altura de resíduo moderada (12cm) em termos de produção de MS, sem prejuízos à composição botânica ou à compactação do solo. O tempo de pastoreio e o valor nutritivo da pastagem foi maior quando o estrato superior esteve disponível. Esses resultados apóiam a hipótese de que no PRV o rebrote das plantas pratenses se dá fundamentalmente a partir das reservas que a planta acumula, e se faz necessário o manejo rasante, pois estimula o segmento produtivo, que é a fotossíntese, e limita o segmento consumidor, que é a respiração do tecido verde remanescente e que a divisão de lotes em desnate e repasse possibilita um melhor aproveitamento da pastagem.

Flávia Luisa Meira Cordeiro. Laboratório de Etologia Aplicada - LETA. Dissertação de Mestrado do Curso de Agroecossistemas - CCA - UFSC (2008). 

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Aspectos extrínsecos do comportamento de bebida de bovinos em pastoreio


Água e sombra são recursos essenciais para animais criados no pasto, tendo reflexos no seu despenho e bem-estar. Em decorrência dos vários fatores que determinam a necessidade de água de um bovino, a ingestão voluntária pelo animal em condições de livre acesso é a melhor medida para o suprimento adequado. Porém, vários aspectos extrínsecos afetam a ingestão voluntária de água dos animais, podendo ocasionar estresse hídrico com conseqüências negativas para a saúde, desempenho e bem-estar. Neste trabalho, estudamos, em dois experimentos, alguns dos fatores que influenciam o comportamento de bebida dos bovinos em pastoreio, com intuito de otimizar o fornecimento de água, melhorando a ingestão voluntária de água dos bovinos. No experimento 1, avaliamos o efeito do tipo do bebedouro no comportamento de bebida de novilhas de corte. No teste 1, quando tinham disponível ambos os bebedouros (A: Bebedouro retangular de concreto ou B: Bebedouro redondo de PVC), os animais apresentaram maior número de eventos de bebida (P<0,0001), tempo bebendo (P<0,0001) e ingestão de água (P<0,009) no bebedouro B. No teste 2 deste experimento, os animais foram expostos a um tipo de bebedouro de cada vez, num desenho tipo “cross-over”, em grupos de dois. Todos os grupos beberam mais vezes (P<0,0003), por mais tempo (P<0,02) e em maior quantidade (P<0,01) no bebedouro B do que no A. Portanto, o tipo de bebedouro influencia o comportamento de bebida e o consumo de água dos bovinos, mesmo quando eles dispõem de apenas uma opção de bebedouro. No experimento 2, testamos se a localização do bebedouro (piquete ou corredor) e a presença da sombra no piquete influenciavam o comportamento de bebida dos bovinos em Pastoreio Racional Voisin - PRV. A sombra dentro do piquete não influenciou o comportamento de bebida das vacas, porém a posição do bebedouro modificou significativamente este comportamento. Nos tratamentos em que o bebedouro estava localizado dentro do piquete, foi verificado um maior número de eventos de bebida (P<0,001), maior tempo bebendo (P<0,01) e apresentaram maior consumo de água (P<0,02) do que quando o bebedouro estava no corredor, distante 150 metros do potreiro de pastoreio. Ainda, quando o bebedouro estava no corredor, o efeito da dominância social afetou o comportamento de bebida dos animais, sendo que os dominantes beberam mais freqüentemente (P<0,02) e por mais tempo (P<0,02) que os animais subordinados. Conseqüentemente, a melhor localização do bebedouro em PRV foi dentro do piquete de pastoreio, pois proporciona aos animais maior ingestão de água, maior número de eventos de bebida e maior tempo bebendo, inclusive superando os efeitos da dominância social. Os bovinos são sensíveis ao tipo de bebedouro e sua localização, o que pode ter impacto direto no bem-estar e na produtividade dos animais.

Paula Araújo Dias Coimbra. Laboratório de Etologia Aplicada - LETA, Dissertação do curso de mestrado em Agroecossistemas - CCA - UFSC.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Bebedouros: bem-estar animal e proteção ambiental no suprimento de água para bovinos de corte


A eficácia das técnicas, a crescente preocupação com a degradação ambiental e um comportamento humano economicamente orientado são fatores relevantes e indissociáveis na adoção de alternativas para o manejo animal. A garantia de um adequado suprimento de água na bovinocultura demanda tanto compreender o comportamento animal quanto demanda compreender a disposição e as preferências humanas na intervenção nesse suprimento. Para avaliar o comportamento de bovinos de corte frente a diferentes formas de suprimento de água foram desenvolvidos dois experimentos. No primeiro, com o objetivo de avaliar o efeito da fonte no suprimento de água sobre o comportamento e o desempenho de bovinos, oito grupos de seis novilhos foram supridos com água fornecida em bebedouros ou em açudes. No segundo experimento, utilizando quatro grupos de 12 animais, dentre os quais seis com e seis sem experiência prévia com bebedouros, foi verificado se a eventual preferência pelo bebedouro ou pelo açude seria afetada pelo fato dos animais já terem experiência com as alternativas apresentadas. Uma avaliação da percepção de produtores rurais sobre o fornecimento de água para os bovinos foi realizada com oito entrevistados, ouvidos quanto ao reconhecimento da importância e à disposição em melhorar o suprimento de água aos animais. Uma vez incorporada a experiência de beber em bebedouro, os bovinos desenvolveram uma preferência por essa alternativa de suprimento de água (P=0,0335), bem como ganharam mais peso do que aqueles que somente podiam beber em açude (P=0,0001), apresentando um ganho médio diário 29% superior durante o período experimental. É possível inferir que além de vantagens na criação animal em si, o uso de bebedouros concorre para a preservação de taludes e da qualidade dos cursos d’água. Os produtores consultados, todavia, somente incorporariam esse procedimento de suprimento de água em bebedouros se de fato verificassem vantagens econômicas.

Gabriela Schenato BICA. Laboratório de Etologia Aplicada - LETA, Dissertação de mestrado do curso de Agroecossistemas, CCA - UFSC. (2004)