quinta-feira, 1 de maio de 2014

O metano e a dor das vacas


Os ruminantes são responsáveis pelo efeito estufa? Esta é uma questão que deve ser analisada com cuidado. Segundo diferentes organizações internacionais, entre elas a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), a pecuária responde por 15 a 28% da emissão mundial de metano, um dos gases que mais contribuem para o fenômeno. 

Há duas formas de se ver este número: a primeira é que, sim, os ruminantes emitem até 28% do metano no planeta! A segunda, todavia, nos indica que 72 a 85% da produção não é emitida por eles. Ou seja, é resultado de outras fontes comuns do gás, como a cultura de arroz, a queima de combustíveis fósseis, esgotos, aterros e também manguezais. 

Para minimizar o problema, de toda forma, pesquisadores argentinos do Instituto Nacional de Investigação Agrícola (INTA) desenvolveram uma tecnologia específica para o gado, que evita a liberação do metano no ar e ainda o aproveita para gerar energia para carros. Uma mochila é acoplada às costas do animal e conectada ao seu rúmen ("estômago"), através de uma fístula e um tubo, que recolhe o gás. 

A ideia é ótima: imagine quanta energia seria gerada pelos animais em uma fazenda?


O problema é que a fístula ruminal – uma abertura cirúrgica permanente feita na lateral do corpo das vacas – causa dor crônica a esses mamíferos, por toda a vida. O uso contínuo da mochila também gera lesões de atrito e desconforto (devido ao suor). E aí vem a pergunta: é justo causar dor a um animal para diminuir a emissão de gases e produzir energia?

Algumas pesquisas científicas indicam soluções não invasivas para a diminuição da emissão de metano pelo gado e mesmo para o aproveitamento deste gás, geralmente eructado (como um "arroto") por ruminantes. É sabido, por exemplo, que a qualidade da dieta influencia em sua produção: quanto melhor a alimentação, menor a emissão de gás. Isso pode ser obtido com melhoria das pastagens, integração lavoura-pecuária ou mesmo a utilização de suplementos energéticos. 

Outra alternativa – e talvez uma das melhores – é a criação em sistemas silvipastoris, que combinam árvores, gado e pastos. Em áreas recém-plantadas, a qualidade da pastagem é melhor e ainda permite fixar muito carbono no solo, o que compensa parte das emissões de gases do efeito estufa. Além disso, em alguns sistemas de criação (como os de produção leiteira) é possível recolher os dejetos das vacas e utilizarbiodigestores para gerar energia. 

Portanto, sim, a emissão de metano por ruminantes existe e é um problema. Mas existem alternativas para minimizá-la, sem ser à custa do sofrimento dos animais.

Por Paola Rueda, zootecnista 
Supervisora de bem-estar animal da WSPA Brasil

Fonte: http://www.wspabrasil.org/latestnews/2014/o-metano-e-a-dor-das-vacas.aspx